quarta-feira, 1 de junho de 2011

Metade de mim

Que a força do medo que tenho 
Não me impeça de ver o que anseio. 
Que a morte de tudo em que acredito 
Não me tape os ouvidos e a boca. 
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe 
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo 
Seja pra sempre amada mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
 Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada. Porque metade de mim é o que eu penso. Mas a outra metade é um vulcão. Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável. Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância. Por que metade de mim é a lembrança do que fui a outra metade eu não sei. Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito e que o teu silêncio me fale cada vez mais. Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba e que ninguém a tente complicar. Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer. Porque metade de mim é platéia e a outra metade é canção.E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor e a outra metade... Também. 
(Oswaldo Montenegro)

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